Por Elismarcia Tosta e Marcos Viana. Revisão por Marta Alencar.
As pessoas com deficiência visual, auditiva, tátil ou com algum tipo de neurodiversidade estão muito mais vulneráveis às desinformações. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta atualmente com mais de 18,6 milhões de pessoas com deficiência, o que representa quase 9% da população brasileira. Quando se trata da taxa de analfabetismo, o número se torna até mais alarmante, comparada às pessoas sem deficiência. A pesquisa aponta que 19,5% para PCDs não possuem alfabetização, enquanto que para pessoas que não são PCDs, 4,1%. Outro dado importante desse levantamento é que o Nordeste é a região com a maior porcentagem de pessoas com deficiência, sendo de 5,8 milhões (10,3%).
A falta de informação acessível fortalece ainda mais a circulação e o compartilhamento de fake news (notícias falsas) através das redes sociais. À medida que a internet vem se tornando um dos principais meios de comunicação mais acessíveis para informações públicas, acaba sendo uma ferramenta bastante utilizada para propagar desinformação.
Quando voltamos a nossa atenção para a realidade de desinformação para as pessoas com deficiência, isso se torna ainda mais preocupante. As informações que deveriam ser claras e acessíveis transmitidas em todos os meios de comunicação e publicadas nos sites noticiosos ainda não estão disponíveis em formatos adequados para as pessoas PCDs.
O professor e coordenador do curso de Jornalismo da Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT), Lawrenberg Advíncula da Silva, explica que mesmo com a criação da Lei Brasileira da Inclusão de Pessoas com Deficiência feita em 2015 é notável poucas iniciativas comunicacionais, sejam elas as mídias comerciais ou independentes, direcionadas às pessoas com deficiências, ainda mais quando se trata de desinformação: “Esta constatação reflete mais especificamente uma dificuldade dos próprios profissionais de imprensa em lidar com questões que abrangem uma cobertura noticiosa não somente mais acessível, mas principalmente menos capacitista no que tange ao emprego de termos. O que piora no contexto da desinformação, sobretudo quando nem sempre a grande disponibilidade de conteúdos sinaliza para maiores benefícios da população de modo geral”.
Adriana Oliveira, que tem a perda total da audição do lado esquerdo e 70% prejudicada no lado direito, conta que o mais a incomoda é a distribuição precária de informação dos veículos que, geralmente, não é voltada para com as pessoas surdas e revela a sua dependência de pessoas próximas para saber sobre determinado assunto: “No momento que vou buscar uma informação confiável sempre dependo de um intérprete de libras ou de alguém da minha família para poder me explicar”, desabafa Adriana.
A sua dependência pela informação por terceiros é explicada por não haver em alguns canais de jornais televisivos, o próprio intérprete de Libras e também por não serem legendas sincronizadas, o que acaba tornando o obstáculo pela informação ainda maior.
Leandrina de Oliveira Pereira, que é deficiente visual, narra que não confia nas informações publicadas nas redes sociais e que prefere se informar dos fatos noticiados apenas pelos canais de notícias na televisão. Devido a essa atitude, Leandrina já evitou cair em golpes envolvendo contas bancárias: “Já recebi mensagens com conteúdos falsos e quando fui assistir ao jornal a noite era golpe. Precisamos sempre desconfiar do conteúdo e não ficar esperando as informações através das redes sociais”.
As barreiras no acesso à informação não só dificultam a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade, como também os tornam mais suscetíveis a desinformação. E para que esse cenário possa ser mudado, Lawrenberg aponta alguns caminhos necessários, sendo um deles a introdução de uma cultura anticapacitista (luta contra o preconceito com as pessoas com deficiência) nos ambientes profissionais de Comunicação. “Logo após isso, atrelar práticas de fact checking (checagem de fatos) sobre pautas de acessibilidade e população PCD com a disseminação delas para os mais diversos segmentos da população”, explica o professor.
Adriana também pontua que um dos principais pontos que necessitam ser realizados pelas mídias é exatamente a falta dos meios pelas quais as pessoas com deficiência têm acesso à informação e não são adotados no meio televisivo: “É preciso que se inclua uma janela para um intérprete de Libras, mas também ter legendas, pois há pessoas com deficiência auditiva que não conhecem a língua de sinais. E para as pessoas com deficiência visual uma audiodescrição do que está sendo passado”.
O dever de todo jornalista é garantir que a informação chegue de forma acessível a todos de uma sociedade. Em um país com a inclusão de diversas leis de acessibilidade para pessoas com deficiência, os jornalistas precisam urgentemente adaptar suas práticas, para que esses indivíduos possam de forma igualitária ter acesso a informação, assim como para aqueles que não têm nenhum tipo de deficiência.
Por isso é importante que o governo, as organizações da sociedade civil e a mídia trabalhem juntos para melhorar a transparência das informações e garantir que elas sejam acessíveis a todos. A responsabilidade é coletiva, e a luta pela inclusão deve ser uma prioridade de todos. A verdadeira mudança começa quando cada um de nós decide enxergar as pessoas com deficiência não como diferentes, mas como iguais dignas de respeito e oportunidades.