Por Ohana Luize*
No contexto das mudanças nas políticas de verificação das plataformas digitais, o Conselho de Comunicação do Congresso Nacional (CCS) debateu em fevereiro deste ano as estratégias essenciais para lidar com o impacto da desinformação na sociedade. Entre os pontos mais discutidos estavam a educação midiática e a regulação das plataformas digitais, apresentadas como pontos complementares para o enfrentamento do atual cenário digital.
Com o anúncio do fim das políticas de verificação pelas plataformas da Meta, o debate ganhou ainda mais relevância. A desinformação, em muitos casos com o benefício dos algoritmos, somada à ausência das políticas de checagem, traz problemas que vão desde aspectos técnicos na navegação nessas plataformas, mas também exige posicionamentos e ações coordenadas entre governos, sociedade civil e cidadãos em benefício da segurança em ambiente informacional digital.
Nesse sentido, a educação midiática é defendida como forma de capacitar a sociedade a uma presença crítica pelo ambiente digital.
Durante as discussões da CCS em fevereiro, Patrícia Blanco, presidente-executiva do Instituto Palavra Aberta e conselheira do CCS, destacou a importância de educar a população para a análise crítica de conteúdos disseminados nas redes. Em suas palavras: “Se regular é necessário, educar é urgente.” Essa afirmação reflete uma das premissas centrais da educação midiática: a necessidade de preparar cidadãos capazes de identificar informações confiáveis, discernir fatos de opiniões e reconhecer estratégias de manipulação usadas na comunicação digital.
Com a proliferação das novas tecnologias de informação e comunicação, como apontado por Renato Godoy de Toledo, também conselheiro do CCS, a educação midiática não é apenas uma vantagem para a sociedade, mas uma necessidade essencial. Ele argumentou que o domínio de competências midiáticas contribui para que os cidadãos entendam como as plataformas funcionam e o impacto dos algoritmos no consumo de informação.
Educação e desafios no cenário digital desregulado
A educação midiática vai além de ensinar os cidadãos a navegar nas redes sociais. Ela promove o pensamento crítico, essencial para que indivíduos avaliem o conteúdo que consomem e compartilham, por exemplo. A falta de critérios críticos torna o usuário das redes em um alvo fácil para a desinformação.
Programas de formação contínua são passos estratégicos para construir uma sociedade mais resiliente, podendo atender a diferentes públicos e camadas sociais. E isso pode se efetivar com apoio de pesquisadores, profissionais da área, organizações da sociedade civil e ativistas da causa no apoio às políticas estatais.
Embora a educação midiática tenha todo esse potencial, ela não é suficiente para resolver os desafios impostos pelas plataformas digitais. Essa reflexão do CCS, demonstrada pelas falas durante o encontro, corrobora com a ideia de que a regulação é também um ponto que deve ganhar força nas discussões. A ausência de políticas determinantes de verificação e controle por parte das grandes empresas de tecnologia ajuda a expor os usuários a riscos crescentes de manipulação e desinformação.
A regulação, defendida por muitos especialistas, visa criar normas que responsabilizem as plataformas por suas práticas e promovam maior transparência em suas operações. Isso inclui a exigência de clareza sobre os critérios utilizados nos algoritmos que priorizam ou restringem determinados conteúdos, bem como a implementação de medidas mais eficazes contra o discurso de ódio e desinformação.
Voltando ao ponto da educação, em regiões onde o acesso à internet ainda é limitado ou onde o nível educacional apresenta maiores desafios, as estratégias de educação midiática precisam ser adaptadas para atender às necessidades locais.
Nesse sentido, se vê um reforço para a defesa de atuações em conjunto envolvendo governos, instituições de ensino, organizações da sociedade civil e as próprias plataformas digitais para promover iniciativas de educação midiática. Investir em parcerias e programas que alcancem escolas, comunidades e profissionais de diversas áreas são alguns exemplos.
Olhar para tudo isso, pode fazer o Brasil dar um passo importante na construção de uma sociedade mais crítica, engajada e consciente de seu papel no ambiente digital.
*Ohana Luize – jornalista, relações públicas, mestra em Comunicação. Estuda temas como: comunicação e educação, juventudes, ruralidades e combate às desigualdades. Professora substituta no curso de Jornalismo da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Voluntária na COAR Notícias, dedicando-se aos assuntos relacionados à educação.